Pesquisa não aponta evidências de que escolas cívico-militares tragam melhorias ao processo educacional

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Por Jurandir Antonio – Voz: Enéas Jacobina

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Pesquisadoras analisaram a agenda educacional do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e constataram que poucas ações saíram do papel para serem concretizadas.

Além disso, elas identificaram a falta de evidências de que escolas cívico-militares tragam melhores resultados para o processo educacional e disciplinar dos alunos.

A professora Catarina Segatto, do Departamento de Ciências Políticas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a Universidade de São Paulo, e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole, é uma das autoras do estudo e comenta os resultados obtidos pela pesquisa.

A docente explica que o mapeamento das propostas políticas do ex-presidente foi realizado juntamente com a professora Sandra Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

De acordo com Catarina, uma das principais constatações da pesquisa foi o enfraquecimento da coordenação nacional nas políticas educacionais e conta que, antes do governo Bolsonaro, o MEC, Ministério da Educação, tinha um papel ativo na coordenação das políticas, processo que foi significativamente reduzido durante o mandato de Bolsonaro.

Essa mudança, segundo a especialista, se refletiu na educação e em áreas como a saúde, que também viu um declínio na coordenação centralizada. 

Conforme a especialista, a pesquisa revelou uma retirada notável de discussões sobre inclusão e diversidade da agenda educacional.

Temas como os direitos de grupos indígenas, quilombolas e pessoas negras e pardas foram menos abordados, assim como questões relacionadas a gênero e direitos sexuais e reprodutivos.

Para a professora, os temas inclusivos recebiam a atenção adequada antes das mudanças políticas do governo bolsonarista.

Entre as políticas que foram efetivamente implementadas, Catarina destaca a nova política de alfabetização e a criação das escolas cívico-militares.

A política de alfabetização, que sofreu críticas por sua abordagem unilateral e falta de diálogo com estados e municípios, resultou em ajustes obrigatórios para sua implementação.

Já as escolas cívico-militares, propagadas pelo ex-presidente como uma inovação no sistema educacional, foram criadas em um número limitado de instituições.

A professora, no entanto, destaca que a literatura existente não oferece evidências robustas de que a gestão militarizada das escolas resulte em melhores resultados educacionais em comparação com o modelo tradicional.

Ela apontou que fatores como a seleção socioeconômica dos alunos e a trajetória escolar anterior podem ter um impacto mais significativo nos resultados educacionais do que a própria gestão militar.