| 07 Guerra de facções criminosas transformam Sorriso numa das cidades mais violentas do paísv.mp3 |
Foto da manchete: Lunaé Parracho/Repórter Brasil
Por Jurandir Antonio – Voz: Yaponira Cavalcanti
Texto do áudio
Sorriso ostenta dois títulos que explicam o paradoxo brasileiro contemporâneo. De dia, é a “capital nacional do agronegócio”, o maior produtor de soja do planeta e símbolo de desenvolvimento econômico.
À noite, transforma-se no município de grande porte mais violento de toda a Amazônia Legal, a “capital das facções”.
A cidade lidera o ranking de Mortes Violentas Intencionais no último triênio entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, registrando uma taxa média de 65,3 mortes por 100 mil, mais que o triplo da média nacional.
Essa matança não é fruto de crimes de roubos comuns, mas de uma guerra de facções que vê na infraestrutura do agro uma oportunidade logística de ouro.
O município vive o epicentro de um racha sangrento entre o CV, Comando Vermelho, historicamente hegemônico no estado, e a Tropa do Castelar, uma dissidência local que mudou de lado e se aliou ao PCC, Primeiro Comando da Capital.
A situação mais grave foi identificada em 2023, quando Sorriso apareceu entre os dez municípios mais violentos de todo o Brasil, registrando, naquele ano específico, uma taxa de 77,7 mortes violentas por 100 mil habitantes.
Mas a matança não é o único índice alarmante.
O relatório aponta que a cidade vive um colapso de segurança generalizado: “por dois anos consecutivos, apareceu entre os municípios com maiores taxas de estupros e estupro de vulnerável do país”.
A violência ali não é apenas armada; é social e predatória.
A rodovia BR-163, espinha dorsal da economia local, tornou-se um ativo disputado a bala.
Em 2023, a estrada foi “uma das rodovias com maior volume de apreensão de drogas no país”.
As facções entenderam que controlar Sorriso é controlar um “hub” logístico de excelência.
O impacto dessa disputa nos índices de criminalidade foi imediato. Em 2022, a cidade registrou 78 mortes violentas.
No auge do conflito, em 2023, o número saltou para 86 mortos. Em 2024, houve um leve recuo para 72 vítimas, uma queda de 8% que, no entanto, não tirou o município da liderança dos mais violentos da região.