| 03 Municípios de Mato Grosso registram as maiores taxas de mortes violentas da Amazônia Legal.mp3 |
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Por Jurandir Antonio – Voz: Eneas Jacobina
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A nova edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia aponta que municípios de Mato Grosso concentram algumas das maiores taxas de mortes violentas intencionais da região entre 2022 e 2024.
O levantamento, elaborado pelo Instituto Mãe Crioula em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foi divulgado na última semana, analisa dados de 772 cidades da Amazônia Legal.
O relatório aponta que Vila Bela da Santíssima Trindade, fronteira com a Bolívia, teve a maior taxa de violência letal de toda a Amazônia no triênio analisado.
Outras cidades mato-grossenses como Nobres, Alto Paraguai, Barra do Bugres, Aripuanã e Sorriso também aparecem entre as mais violentas em seus respectivos grupos populacionais.
Vila Bela registrou 12 assassinatos em 2022, 17 em 2023 e 42 em 2024, uma alta de 250% no período.
O aumento, segundo o estudo, está ligado a dois fatores: a posição geográfica, a fronteira com a Bolívia, e o avanço acelerado do garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé.
A região virou rota estratégica para a entrada de cocaína produzida na Colômbia e transportada via Bolívia.
O estudo lembra que em paralelo, a intensificação do garimpo coincidiu com a entrada do Comando Vermelho, que passou a controlar áreas de extração de ouro, cobrar mensalidades, impor regras e monitorar a circulação de trabalhadores no território indígena.
Nobres aparece como o segundo município mais violento da Amazônia entre os de pequeno porte.
A cidade sofre forte influência do Comando Vermelho, e o número de mortes violentas dobrou entre 2022 e 2024. Disputas com o PCC explicam parte dos assassinatos registrados.
Alto Paraguai, com cerca de oito mil habitantes, ocupa a quarta posição entre os pequenos municípios mais violentos.
O estudo associa os índices à presença da facção Tropa do Castelar, uma dissidência do Comando Vermelho, ao histórico de garimpo e às pressões de atividades agropecuárias e minerárias.
No grupo de municípios com 20 a 50 mil habitantes, Barra do Bugres está entre os mais violentos da Amazônia.
As mortes subiram 52% no triênio, impulsionadas pela disputa territorial entre CV e PCC em rotas usadas pelo tráfico oriundo da Bolívia.
Aripuanã aparece na terceira posição neste grupo. A cidade reúne elementos típicos de territórios de conflito na Amazônia: mineração legal e ilegal, presença de facções, desmatamento e proximidade com terras indígenas.
A operação Primatus, deflagrada em 2025, identificou cobrança de “impostos” por parte do Comando Vermelho sobre a exploração de ouro.
Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Sorriso, no norte de Mato Grosso, lidera o ranking de maiores taxas de violência da Amazônia Legal.
Com economia ligada ao agronegócio, o município virou alvo de facções que disputam rotas logísticas e pontos estratégicos do estado.