Proliferação de hidrelétricas no noroeste de Mato Grosso ameaça a biodiversidade da região

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Foto da manchete: Assessoria OPAN

Por Jurandir Antonio – Voz: Enéas Jacobina

Texto do áudio:

 

O Boletim de Monitoramento de Pressões e Ameaças às Terras Indígenas na Bacia do rio Juruena, produzido pela OPAN, Operação Amazônia Nativa, identificou um significativo avanço no processo de licenciamento de empreendimentos hidrelétricos previstos para a bacia do rio Juruena, que fica na região noroeste do estado.

De maio de 2023 a fevereiro de 2024, período de recorte do último boletim, cinco projetos avançaram para fases de construção ou operação.

Agora, dos 180 empreendimentos hidrelétricos previstos para a bacia, 56 já estão em fase de construção ou em operação.

As outras 124 estão na etapa de planejamento, como é o caso da Central Geradora Hidrelétrica Rio dos Papagaios, que, apesar de ser um dos projetos hidrelétricos com maior potencial de risco, está escalado na pauta do Conselho Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso para dispensa do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental.

De acordo com a OPAN, a Hidrelétrica do Rio dos Papagaios fica em uma área extremamente importante para a conservação da biodiversidade e tem uma contribuição pífia em termos de geração de energia.

Se construída, poderá ser a primeira hidrelétrica no rio Papagaio, que tem função estratégica por ser um dos últimos ainda sem barragens em toda a bacia.

Segundo a coordenadora do Programa de Direitos Indígenas da OPAN, Andreia Fanzeres, é inexplicável que a Sema indique a dispensa dos estudos ambientais justamente para o licenciamento deste empreendimento.

De acordo com a OPAN, a Hidrelétrica do Rio dos Papagaios é o sexto pior projeto em termos de risco ambiental num ranking dos 27 considerados de altíssimo risco na bacia.

Na avaliação do pesquisador Pedro Bara, “a relação benefício-custo é muito ruim”.

As hidrelétricas têm afetado a dinâmica interna de muitos povos indígenas da região.

Os Enawenê-Nawê, por exemplo, já não têm peixes suficientes para alimentação e a prática de rituais.

De acordo com o geógrafo e autor do boletim, Cristian Felipe Rodrigues Pereira, o avanço do setor hidrelétrico representa uma ameaça à soberania alimentar e à reprodução cultural dos povos da bacia.