Há dois meses, praticamente tres, o mundo, todos os países, inclusive o Brasil, vivem em meio `a maior crise sanitária das últimas décadas ou talvez séculos. Aos poucos um minúsculo virus, invisível a olho nú, mas com um poder de destruição que rompeu todas as barreiras do conhecimento, as sofisticadas estruturas de defesa nacionais, o sistema economico internacional, o deus mercado tão louvado pelos adeptos do liberalismo que tanto desejam um estado minimo, estao rasgando seus dogmas e inchando os estados nacionais, deixando a população em geral, incluindo também governantes, gestores publicos e até cientistas completamente perdidos, atarantados, sem rumo e em pânico.
Os meios de comunicação parecem que só tem uma pauta, dia e noite, 24 horas por dia, sete dias por semana, todos os veiculos de comunicação: rádio, televisão, internet, mídia impressa, redes sociais só falam do coronavirus, a opinião pública está praticamente anestesiada, angustiada, doente mental e fisicamente, assistimos cenas aterradores, tétricas, parece que existe um imenso prazer, uma mistura de sadismo com masoquismo, ao contarem diariamente o número de pessoas infectadas, que já passam de aproximadamente 2,6 milhões e 177,6 mil mortes, com cenário que projeta esses numeros até o final da pandemia para nada menos do que mais de 4,5 milhões de infectados e talvez mais de 500 ou 600 mil mortes, principalmente quando a pandemia atingir em cheio os paises mais pobres do mundo e também as periferias, as favelas, as palafitas, enfim, a grande massa da população excluida nos paises ricos e emeregentes, como o Brasil. Não bastasse a contagem de infectados e mortos, agora surgem as cenas horripilantes de montanha de caixões, filas em cemitérios, milhares de pessoas sendo enterradas em valas comuns, abertas com retroescavadeiras, sem que familiars possam despedir-se de seus entes queridos e jamais irão poder visitar seus túmulos.
Todavia, mesmo muito antes do coronavirus, os cientistas do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas, da ONU, tem alertado de forma muito incisiva, clara e objetivamente e com dados obtidos pela ciência, em pesquisas em diversos paises, envolvendo mais de 11 mil cientistas de que o pior, muito pior do que a pandemia do coronavirus ainda está por vir. Seria algo como os profetas do apocalípse tem chamado do fim dos tempos, a grande destruição, o AMARGEDOM, como consta das visões de São João, descritas no livro do Apocalípse.
Mas lamentavelmente, da mesma forma que governantes medíocres não “deram bola” quando do inicio do surgimento do coronavirus e alguns até hoje imaginam que o coronavirus é uma fatalidade, que vai atingir a maior parte da população e que quem tiver que ser infectado e morrer, isto não conta para os donos do poder, insensiveis `a dor, sofrimento e morte alheias.
Tem governante que continuamente se compraz em dizer que uma facada é horrivel, que foi Deus quem o salvou, mas que pouco se importa com centenas de milhares de mortes pelo coronavirus, que isto não é nada, afinal, quem deve se preocupar com mortes e enterros não são os governantes, mas sim, os COVEIROS! Cinismo é pouco para quem pensa assim.
Neste dia de 22 de Abril de 2020, que tambem é o dia do descobrimento do Brasil, o mundo comemora meio século da maior manifestação contra a degradação ambiental e o descaso dos governantes em relação ao meio ambiente, que ocorreu em centenas de cidades dos Estados Unidos nesta data no ano de 1970, em plena Guerra do Vietnan.
Aproximadamente 20 milhões de pessoas, equivalentes na época a 10% da populacao Americana tomaram as ruas, avenidas, parques frentes de predios públicos, escolas, universidades para, de uma forma pacífica, protestarem veementemente contra o que estava acontecendo com o meio ambiente e o planeta terra.
Esta grande manifestacao, que corresponderia a mais de 33 milhões de pessoas hoje, considerando o aumento e a proporcionalidade populacional amerciana, marca também o inicio do movimento de ativismo ambiental, não apenas nos EUA, mas em diversas outros países.
O ATIVISMO AMBIENTAL contribui para que governantes e sociedade despertem para a gravidade dos desafios ecológicos e a urgente necessidade de agirmos contra o mais feroz e terrivel inimigo da humanidade que são as mudancas climáticas e suas consequencias em todas as áreas de atividades humanas.
Nessas cinco decadas, meio século, a consciência ambiental, a certeza de que o planeta terra é finito, enquanto os recursos naturais não são infinitos e que a voracidade e o desrespeito ao equilíbrio ambiental, ao que o Papa Francisco tem insistido, como ECOLOGIA INTREGRAL, se não for confrontado corajosameente, encarado de frente irá colocar em cheque, colocar em risco não apenas o meio ambiente isoladamente, mas a própria sobrevivência da espécie humana.
A ganância humana, o consumismo, o desperdício, a busca insensata por lucros imediatos e a acumulação de capital que não respeito o meio ambiente é uma forma totalmente irracional e criminosa de relacionamento do ser humano com a natureza. Desenvolvimento que não respeito o meio ambiente não é desenvolvimento, é apenas um simulacro a serviço de interesses de uma minoria em detrimento da imensa maioria da população do planeta.
Os relatórios do IPCC – sigla em ingles, para o Painel Intergovernamental sobre os impactos das mudancas climáticas, ao longo de vários anos tem alertado para este risco e deixado bem claro que o tempo para agir, mudar o curso do que seria um grande desastre ambiental, esta ficando mais curto a cada ano. Ou agimos agora, de verdade e não apenas através de meros discursos demagógicos e mistificadores de nossos governantes e de integrantes dos sistemas econômicos, ou estaremos, em breve, diante de uma catástrofe de proporções muito maiores do que a pandemia do coronavirus, quando centenas ou talvez milhares de cidades costeiras ou ribeirinhas, comunidades inteiras irão desaparecer, e, dezenas de milhares ou talvez milhões de pessoas serão tragadas por esta catástrofe.
Foi por esta simples razão, para o risco iminente e perigo de uma grande catastrofe ambiental provocada pelas mudanças climáticas que o DIA DA TERRA neste ano de 2020 escolheu como tema a ação, o ativismo ambiental, com o objetivo de despertar a consciência planetária e estimular as ações de grandes massas, movimentos organizados, organizações não governamentais, enfim, uma parcela significativa da populacao mundial em todos os países para pressionarem seus e, no caso do Brasil, nossos governantes em todos os niveis:federal, estaduais e municipais e em todas as instituições e instâncias de poder, para que deixem suas pendengas, suas ideologias, suas idiosincrazias de lado, e promovam ações concretas para, se não equacionar os problemas ambientais em um curto ou medio tempo, pelo menos “mitigar” seus efeitos destruidores o mais urgente, dada a gravidade dos problemas ambientais.
Da mesma forma que estamos lutando contra o coronavirus para evitar que mais pessoas sejam contaminadas e mais pessoas venham a morrer, também precisamos lutar desesperadamente para que a SAÚDE DO PLANETA TERRA seja restaurada e que nós, habitantes deste planeta possamos ter esperança de que nossos filhos, netos e sucessivas gerações possam viver com melhor qualidade de vida, sem destruir os ecossistemas, sem destruir a biodiversidade, sem desmatamento legal ou illegal que provoque dano ambiental irreversivel, sem uso abusivo de agrotóxicos, sem mineração que deixa um rastro de destruicao e morte, que a poluição do ar, dos solos, da água seja algo de um passado irresponsável e insano, fruto de um modelo de desenvolvimento consumista, ambientalmente pernicioso, predador e econômica e socialmente injusto, que gera lucro e riquezas para uns poucos e exclusão, pobreza, miséria e morte para a grande maioria da população do mundo e dos países.
Quando o DIA DA TERRA destaca a questão das mudancas climáticas é devido aos seus impactos em todos os países, pois com o acúmulo de gases tóxicos de efeito estufa produzido pelas fábricas, pelo sistema produtivo urbano e rural, pelo sistema de transporte altamente poluidor, pela matriz energética baseada em combustíveis fósseis, principalmente o petróleo e o carvão, pelo consumismo, pelo desperdício e aumento da proudação de lixo, principalmente o lixo plástico, pela falta de saneamento básico, pela transformação de córregos, rios e outros cursos d’água, inclusive os mares e oceanos em grandes esgotos a céu aberto , que degradam não apenas o meio ambiente mas tambem a qualidade de vida e a dignidade humana, esses aspectos e outros mais não mencionados, representam, ao mesmo tempo, nossos desafios e tambem nossa “cartilha” para estruturar nossas ações.
Segundo os organizadores do DIA MUNDIAL DA TERRA, o mundo nunca precisou tanto de ativistas ambientais, mobilizadores, enfim, pessoas que despertem suas consciências para a importância de enfrentar tais desafios quanto salvar o planeta, a partir das nossas ações no cotidiano nos locais em que vivemos. Nunca a máxima “pensar globalmente e agir localmente” foi tão verdadeira.
Precisamos nos organizar e, coletivamente, refletirmos sobre quais são as questões ambientais, ecológicas mais prementes em nossas localidades, nossos ambientes de trabalho, nossos bairros, nossos municipios, nossos Estados e nosso país e o que devemos realizar, sem que com isto, venhamos a substituir as ações e medidas que cabem aos poderes publicos.
Não podemos deixar apenas para que os governantes, miopes e comprimissados ou parceiros de grupos economicos que jamais zelam pelo meio ambiente, definirem as politicas públicas ambientais e correlatas. Como cidadãos, contribuintes e eleitores temos o direito de não apenas sugerirmos, mas também pressionarmos essas instâncias públicas para que cumpram suas funções, que definam politicas públicas articuladas e que não sofram solucao de continuidade quando sucessivos governos forem trocados/substituidos, que implementem um Sistema de planejamento governamental onde as questões ambientais não sejam apenas “puxadinhos” na pauta da politica e estratégia nacional de desenvolvimento, mas estejam no cerne de um projeto nacional de desenvolvimento, de um projeto de nação!
O DIA DA TERRA deve despertar a consciência das pessoas para a importância do planejamento estratégico, de longo prazo e que os organismos públicos voltados ao meio ambiente não sejam sucateados, que as leis ambientais sejam realmente cumpridas, que os crimes ambientais sejam de fato punidos, não a omissão e conivência como acontece no Brasil na atualidade. Nossos governantes devem honrar os compromisssos que o Brasil tem assumido e firmado nos foruns internacionais em relação ao meio ambiente e todos os tratados de que faz parte, com destaque para o Tratado de Paris, aprovado em 2015.
Este é o verdadeiro sentido do DIA DA TERRA, que neste ano, devido `a pandemia do coronavirus não poderá ser comemorando com ações públicas de impacto, como vinham acontecendo ao longo dos últimos anos.
Lembremos que o CORONAVIRUS vai passar e os desafios ambientais, econômicos, sociais e politicos continuarão a nos atormentar até que um novo e talvez maior desastre, neste caso, desastre ambiental vai se abater sobre a terra, com um poder destruidor muitas vezes maior do que esta pandemia, que no entender do Presidente Bolsonaro seria apenas uma “gripizinha” ou resfriadinho.
Da mesma forma que nossos governantes minimzam os problemas sanitários, o sofrimento e morte de pessoas inocentes que são vitimas da incúria, cinismo e insesibilidade quanto ao sofrimento alheiro, a mesma forma de agir e interpreter os desafios ambientais norteiam o pensamento e ação dessas autoridades, que não conseguem pensar além de seus currais eleitorais e das próximas eleições.
Precisamos de politicos, autoridades e gestores públicos que tenham estatura de estrategistas, de estadistas e capacidade de liderança para conduzir o país rumo a um novo patamar de desenvolvimento nacional, o que a grande maioria dos donos do poder e seus aliados ideológicos e grupos econômicos que os apoiam não conseguem ser.
Viva o DIA DA TERRA, vida longa, saudável e com respeito ao nosso planeta, nossa mãe natureza. Pense e reflita mais profundamente e defina, conscientemente, o que voce pode fazer pela restauração da saúde do planeta e quais as ações que voce pode realizar juntamente com outras pessoas para pressionar nossas autoridades a serem mais responsáveis, eficientes e eficazes pela politica nacional do meio ambiente e para combater, efetivamente, as mudancas climáticas.
Este é o grande recado deste DIA DA TERRA DE 2020.
JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversas veiculos de comunicação social. Email profjuacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy