*Juacy da Silva
Oxalá que o novo ano (2026) que se aproxima seja um tempo de paz, de sustentabilidade, de Justiça Social, muita sinodalidade e profetismo por parte da Igreja, não apenas enquanto uma Instituição terrena, com suas estruturas e dimensões de poder; mas, fundamentalmente, uma Igreja na dimensão espiritual e humana representada por todas as pessoas batizadas, unidas por uma mesma fé e esperança, o verdadeiro Corpo de Cristo, que somos nós leigos, leigas, religiosos, religiosas e aqueles que integram a hierarquia eclesiástica também.
Nunca é demais relembrar a importância do papel e da autoridade do Papa para os fiéis católicos, enquanto sucessor de São Pedro, no contexto da Unidade da Igreja e importância do Magistério de sucessivos Papas, seja em seus pronunciamentos públicos, suas homilias e, principalmente, em suas Exortações Apostólicas e Encíclicas.
A Unidade da Igreja só existe quando nós, como fiéis, seguimos não apenas a Doutrina Católica, emanada das Sagradas Escrituras, mas também seguindo e praticando o que em cada momento o Santo Padre, Bispo de Roma nos orienta e nos aponta como caminho a seguir. Ignorar as mensagens e as diversas dimensões do magistério papal reduz a dimensão de Unidade da Igreja.
Por exemplo, o Papa Francisco com seus ensinamentos e seu magistério voltados para os desafios da Ecologia Integral (Vide Laudato Si, Laudate Deum, Querida Amazônia e o pronunciamento sobre os tres “Ts”: Terra, Teto e Trabalho; o sentido de sermos uma Igreja que faz a Opção preferencial pelos pobres, e, por isso, cultivarmos tanto a Sinodalidade quanto a Amizade Social (vide Fratelli Tutti) e a criação do Dia Mundial dos Pobres.
Assim, ao longo de pouco mais de uma década o Papa Francisco estimulou a Igreja e apontou-nos o caminho a seguir. na sinodalidade e no profetismo. Todavia, boa parte da Igreja, tanto da Hierarquia (clero, religiosos e religiosas) simplesmente ignorou essas mensagens , enfim, o Magistério de Francisco.
Agora temos um novo Papa, que, ao ser eleito sucessor de Pedro e Bispo de Roma, escolheu, simbolicamente, o nome de Leão XIV, demonstrando que pretende seguir o Magistério de Leão XIII, voltado para a justiça social em relação ao fator trabalho e a situação em que viviam os trabalhadores do mundo inteiro, principalmente na Europa, em condições de extrema pobreza e exploração e, em meio a um grande debate e conflito ideológico, entre o “capitalismo selvagem” de um lado e o marxismo/comunismo de outro.
Coube a Leão XIII demonstrar que a Igreja oferecia e ainda oferece, uma outra opção que era o cooperativismo, a economia solidária, baseados em uma justa distribuição dos frutos do trabalho e no conceito de justiça restaurativa, de equidade e na busca da construção de uma Igreja Samaritana e solidária, tendo como exemplo, as primeiras comunidades cristãs, onde tudo era compartilhado entre aquelas pessoas que comungavam uma mesma fé e uma mesma esperança.
Pois bem, o Papa Leão XIV, não apenas resgata o Magistério de Leão XIII, mas dá continuidade ao aprofundamento feito pelo Papa Francisco ao incorporar as preocupações e compromissos dos cristãos em geral e católicos em particular com a ecologia integral no corpo da Doutrina Social da Igreja (DSI).
Além disso, Leão XIV tem voltado seu magistério para construir uma cultura da paz desarmada, condenando todas as formas de guerras, de conflitos armados e todas as formas de violência em particular, onde, a Autoridade Moral da Igreja deve estar e fazer-se presente sempre, jamais compactuando com tais distorções nas relações humanas e nas relações geopolíticas globais.
Com bastante frequência Leão XIV tem insistido que cabe a Igreja, tanto no que concerne sua hierarquia eclesiástica quando Igreja enquanto fiéis, o Corpo de Cristo; seguir esses ensinamentos, mas também aprofundar tais compromissos através de ações concretas, sempre lembrando que a caminhada da Igreja se faz ancorada em tres grandes fundamentos: Espiritualidade (não epans de forma subjetiva, mas engajada); Ações sociotransformadoras e também Mobilização profética.
Isto significa, em meu entendimento, que preicamos rezar/orar sempre; mas só isso não basta. Precisamos enquanto Igreja também agirmos para transformar as estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais que geram pobreza, miséria, fome, exclusão, violência, conflitos e guerras, ou seja, irmos `as causas e combatermos tais causas que geram a degradação moral, socioambiental e a exclusão social, política e econômica e todos esses desafios que tanto nos agustiam.
Todavia, como não cabe `a Igreja substituir o que cabe aos poderes públicos, `as instâncias governamentais realizarem, é fundamental que esta mesma Igreja que faz a opção preferencial pelos pobres, também esteja ao lado dos pobres e excluidos e lute junto deles na superação dessas iniquidades, verdadeiros pecados tanto ecológicos qunto sociais.
Neste particular é que “entra”, surge a dimensão profética, incluindo a mobilização profética e o estímulo para as ações coletivas que possam pressionar os governantes, os donos do poder e os donos do capital, donos da economia a pautarem suas ações através de políticas públicas voltadas para atender as necessidades, sonhos e esperanças dos pobres e oprimidos e também para que os empresários não mirem apenas o lucro imediato, mas vejam na economia e na propriedade privada dos meios de produção uma dimensão de justiça social, voltadas para o bem comum, algo fundamental e importante para a caminhada da Igreja.
Justiça social neste contexto é sinônimo, MORADIA DIGNA, de trabalho digno, salário digno e justo, uma maior e melhor distribuição de renda, riquezas e oportunidades , respeito `a natureza, `a ecologia integral, justiça intergeracional, e um combate a todas as formas de exploração, discriminação, inclusive de gênero, raça e cor, no desenvolvimento da cultura da paz, desarmada e desarmente.
Só assim, podemos falar em uma Igreja que caminha ao lado do Povo de Deus e na construção de Novo Céu e Nova Terra, em busca da TERRA SEM MALES e do BEM VIVER!
A seguir, sugiro a leitura da primeira Exortação Apostólica de Leão XIV “DILEXI TE” (EU TE AMEI), bem como tres mensagens mais recentes.
1) “Papa denuncia a injusta concentração de riqueza: a esperança gera, não rouba” Bianca Fraccalvieri - Vatican News 20 Dezembro 2025.
2) “Papa: acumular riquezas não dá sentido à vida, nosso tesouro está no coração” Vatican News, Audiância Geral, 17 Dezembro 2025.
3 “O trabalho justo coloca a pessoa acima do lucro”. Vatican News, Ao receber em audiência os representantes da Ordem dos Consultores do Trabalho, o Papa destacou que toda atividade trabalhista deve ter como centro a dignidade da pessoa humana e da família, e não o lucro ou as leis do mercado econômico.
Em relação `as suas ênfases quanto `a importância e a responsabilidade dos Católicos com um melhor cuidado com a Ecologia Integral, Nossa Casa Comum, é importante ler, refletir e promovermos ações concretas sugeridas em diversos de seus pronunciamentos desde que assumiu e deu início ao seu Magistério Papal.
Lamentavelmente, como tem acontecido com todos os Papas que os antecederam, as diversas Encíclicas, Exortações Apostólicas e Homilias que foram publicadas ou transmitidas`a Igreja Universal e `as Igrejas Locais, boa parte das mesmas tem feito “ouvidos moucos”, como se os Papas estivessem “pregando no deserto”, simplesmente “temos” ignorado o Método da Igreja que nos orienta em seus tres passos fundamentais: VER, JULGAR/ILUMINAR e AGIR.
A Igreja, ou melhor, nós fazemos, razoavelmente bem, os dois primeiros passos mas nos omitimos bastante em realção ao terceiro passo que é o AGIR. Resta-nos relembrar que para que haja mudanças sociotransformadoras, que alterem as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas, precisamos de agir, não apenas individual, mas, de preferência, COLETIVAMENTE, principalmente ao lado e com os pobres, excluidos e oprimidos, este é o AGIR de uma IGREJA PROFÉTICA.
É isto que Leão XIV está nos apontando como os novos rumos que a Igreja deve seguir, um verdadeiro resgate nas decissões tomadas (e ainda em vigor) pelo CONCÍLIO VATICANO II, que em 08 de Dezembro último (2025), completou 60 anos, mas que, praticamente esta data foi ignorada pela Igreja tanto no Brasil quanto em diversos países.
Juacy da Silva, professor fundador, titular, aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mesttre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy Whats app 65 9 9272 0052