Jovens tem altas taxas de internação por saúde mental

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Carolina Pessoa - Repórter da Rádio Nacional

Edição:  Fabiana Sampaio / Eliane Gonçalves

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma pesquisa da Fiocruz divulgada nesta terça-feira (9) aponta altas taxas de internações por questões de saúde mental entre jovens. Entretanto, esse público é o que menos acessa a Atenção Primária à Saúde em busca de serviços para tratar o problema, na comparação com a população geral.

A pesquisa feita a partir da base de dados do SUS, entre 2022 e 2024, analisou os casos de brasileiros na faixa etária entre 15 e 29 anos.

No período analisado, pouco mais de 11% dos atendimentos de jovens na Atenção Primária à Saúde foram para tratar da saúde mental, enquanto na população geral essa taxa foi de cerca de 24%.

Já a taxa de internações para cada cem mil habitantes na faixa etária analisada chegou a 579 casos. O grupo de  25 a 29 anos foi o que registrou os índices mais altos: 719 para cada cem mil habitante. Números considerados elevados em comparação com a taxa  da população adulta, que foi de 599. 

A professora Nicole Ayres foi internada aos 26 anos, por pouco menos de um mês, devido a uma crise emocional provocada por problemas afetivos e sobrecarga da trabalho. Inspirada na própria experiência, ela lançou o livro Dançando na Varanda. Para a professora, falar abertamente sobre o tema é fundamental.

“Eu acho muito importante falar sobre o assunto, discutir sobre o tema, para ajudar a gente a conviver com pessoas que estejam passando por períodos difíceis também, saber como agir, saber compreender, saber ter paciência. Então eu procuro no meu livro acolher essas pessoas, ajudar essas pessoas, é um dos principais objetivos do Dançando na Varanda”.

Luciane Ferrareto pesquisadora do Observatório Juventude, Ciência e Tecnologia da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, aponta alguns fatores que estão contribuindo para o aumento das taxas de internações entre os jovens.

“No caso dos homens, jovens, eles se internam mais pelo uso de drogas. Eles estão inseridos cada vez mais em trabalhos precarizados, exaustivos, que causam ansiedade, medo... No caso das mulheres, elas se internam mais por depressão. Essas mulheres desde muito cedo são muito reprimidas, no âmbito familiar. Essas mulheres, elas são responsáveis pelo cuidado, né, nas suas famílias, dos filhos ou dos parentes, elas também se envolvem em relacionamentos abusivos”.

A especialista também fala sobre a baixa procura por tratamento e relaciona o resultado à dificuldade na assistência.

“Ela é insuficiente para receber essa demanda. A gente precisa de políticas públicas que ampliam a rede de atenção psicossocial para atender esse número expressivo de demanda. E mais do que expandir, precisa também de qualificação, de educação profissional, de formação profissional para esses profissionais que estão na rede para atender essa juventude”.

Ainda de acordo com o estudo, a população jovem apresenta também o maior risco de suicídio. O problema é mais grave entre os indígenas, grupo que registra a mais alta taxa de casos do país.