Recuperação econômica mundial

A recuperação da economia mundial, após a pandemia da covid-19, está muito mais difícil do que se imaginava inicialmente. Abalada e surpreendida pela dimensão da crise sanitária, a economia global teve os anos de 2020 e 2021 perdidos, sob a ótica do progresso econômico. Foram dois intensos anos lutando apenas para sobreviver aos estragos causados pela pandemia. Com a descoberta de vacinas e aprendizado científico para lidar com a doença, a cena econômica estava desenhada para uma retomada forte do crescimento em 2022. Passados seis meses, a dura realidade não está confirmando as expectativas de líderes políticos, empresariais e analistas econômicos.

A quebra das cadeias mundiais de logística e suprimentos de insumos industriais e agropecuários, encareceram a produção de bens, serviços e alimentos no mundo inteiro. O resultado foi elevação da inflação nas maiores economias globais a patamares que não eram vistos há mais de 40 anos. Parte dessa inflação das economias mais desenvolvidas foi transferida, involuntariamente, para os países emergentes, transformando uma chaga que antes era de cada país, num problema econômico mundial a ser combatido. Os bancos centrais passaram a utilizar a principal ferramenta de política monetária para combater a alta generalizada de preços: elevar as taxas de juros. O efeito colateral de juros altos é o encarecimento do crédito, inibição de investimentos, fuga de capitais, desvalorização cambial e, consequentemente, desaceleração da atividade econômica. A interrupção abrupta dos estímulos fiscais às empresas e programas de transferências de renda para as famílias desestabilizaram cadeias produtivas e afetaram o mercado de trabalho, dificultando ainda mais a reaceleração das economias.

O ritmo baixo do crescimento da atividade econômica dos EUA, inflação anual de 9,1% e a esperada elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, atuam como freios na retomada de tração da atividade econômica global.

Para colocar mais pimenta no caldo, a autoritária e imperial Rússia decidiu inventar uma guerra fratricida ao invadir a Ucrânia, país livre, soberano e democrático. Produziu ainda mais instabilidade política, energética e econômica no continente europeu. A necessária reação das nações democráticas do mundo todo, sob a forma de isolamento diplomático e fortes sanções econômicas à invasora Rússia, espalharam os efeitos da guerra para o mundo inteiro, aumentando ainda mais a escassez de insumos agropecuários e industriais.     

O ressurgimento massivo da covid-19 na China é outro fator que inibe a recuperação mundial. O governo central chinês colocou em “lockdown” suas maiores cidades, paralisando todas as atividades produtivas. Essas cidades são também os maiores centros comerciais, industriais e logísticos da China. Uma verdadeira freada brusca no ritmo acelerado da segunda maior economia do planeta, impactando negativamente todo o comércio mundial, visto que praticamente todos os países mantêm relações de comércio exterior com a China.

A atenção de todos os países está voltada à saúde econômica dos EUA e China. Quando esses dois países contraem um resfriado, o resto do mundo tem pneumonia.  

O cenário desta segunda metade de 2022 e ao longo de 2023 mostra os principais blocos econômicos mundiais, Estados Unidos, continente europeu e China lutando contra a inflação alta, ao mesmo tempo que utilizam todas suas armas estratégicas para evitar que suas economias caiam em recessão prolongada. Afinal, crescimento baixo e inflação alta é tudo que o mundo não precisa nesse período de convalescência pandêmica.

Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP. E-mail: vivaldo@uol.com