| 11 Microplásticos no corpo humano evidências científicas reforçam necessidade de restrições ao uso de plástico.mp3 |
LOC.: O uso de plásticos e materiais descartáveis se expandiu de forma acelerada nas últimas décadas. Presentes em embalagens, utensílios, produtos de higiene e até móveis, essa disseminação ocorreu sem a devida avaliação dos impactos ambientais e sobre a saúde humana.
Estudos recentes revelam que microplásticos já foram identificados em diversas partes do corpo humano: pulmões, placenta, corrente sanguínea, leite materno, sêmen e, mais recentemente, no cérebro.
Diante das evidências científicas sobre os danos à saúde, especialistas defendem que o Brasil avance com medidas para reduzir a produção e o consumo de plásticos descartáveis.
O Projeto de Lei 2524 de 2022, conhecido como PL do Oceano Sem Plástico, é apontado pela diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde, Paula Johns, como “um primeiro passo fundamental”.
TEC./SONORA: Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde “A conexão entre saúde e meio ambiente é intrínseca. Para a gente ter saúde, o meio ambiente precisa ser saudável e vice-versa.”
Áudio (09s)
LOC.: A proposta, que estabelece diretrizes para uma economia circular do plástico, está parada há mais de 600 dias no Senado. Para Johns, o entrave não está na falta de evidências científicas, mas na atuação da própria indústria.
TEC./SONORA: Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde
“O principal obstáculo não é a falta de evidência, não é a falta de comprovação de que essas medidas são eficazes; o principal obstáculo é o lobby da indústria.”
Áudio (08s)
LOC.: A professora-pesquisadora Thais Mauad da Faculdade de Medicina da USP, responsável por identificar microplásticos no pulmão e no cérebro, reforça que produtos descartáveis precisam ser abolidos.
TEC./SONORA: Thais Mauad, doutora em Patologia e professora-pesquisadora da FMUSP
“Não faz sentido você usar um copinho que alguém teve que ir lá numa plataforma de petróleo, extrair petróleo, para você usar aquele copo cinco segundos e jogar fora. Depois aquilo fica 500 anos na natureza. E o plástico, além de tudo isso, ele não é reciclável como o vidro, por exemplo, que ele é eternamente reciclável. O plástico se recicla duas ou três vezes e depois ele vira uma coisa que não é mais reciclável porque não tem mais qualidade. Então a melhor solução é não usar.”
Áudio (28s)
LOC.: A pesquisa de Mauad detectou microplásticos no bulbo olfatório, região do cérebro responsável por processar os odores. O polipropileno, usado em roupas e embalagens, foi o tipo mais encontrado.
TEC./SONORA: Thais Mauad, doutora em Patologia e professora-pesquisadora da FMUSP
“Nós temos células olfatórias nervosas no nariz que se conectam diretamente com a base do cérebro, no órgão que se chama bulbo olfatório, que é o primeiro, vamos dizer, decodificador dos cheiros que a gente sente.”
Áudio (15s)
LOC.: Estudo da organização Oceana mostra que cerca de 4% do peso dos microplásticos é composto por aditivos químicos, orgânicos e inorgânicos. Na fabricação, esse material é responsável por definir cor, resistência e maleabilidade.
Segundo Mauad, muitos desses aditivos atuam como disruptores endócrinos no corpo humano, capazes de afetar o desenvolvimento de órgãos, alterar a função da tireoide e aumentar riscos relacionados ao câncer de mama.
Ela alerta que o aquecimento de recipientes plásticos favorece a liberação dessas substâncias.
TEC./SONORA: Thais Mauad, doutora em Patologia e professora-pesquisadora da FMUSP
"Quando você esquenta a sua comida com um plástico no micro-ondas, você está soltando os aditivos com o calor e esses aditivos saem, se desprendem da molécula e vão para o seu alimento. Mesmo quando você coloca numa lavadora de louças, por exemplo, quente, acontece a mesma coisa."
Áudio (19s)
LOC.: Para Johns e Mauad, sem mudanças estruturais na produção e no consumo de plástico, o país continuará enfrentando impactos ambientais e à saúde pública.
Reportagem, Maria Clara Abreu