Resolvi publicar este artigo que meu saudoso pai Lenine Póvoas escreveu
no começo da década de 70.
“A derrubada das matas e o fogo que anualmente assola nossas matas e
campos, tem sido de há muito, uma preocupação para os homens públicos
ou não, que se interessam pelo futuro do país.
É de pasmar a incapacidade manifestada pelos governos através dos anos
para resolver esta questão.
A devastação não só da Amazônia como de todas as nossas matas, tem
sido uma das teclas que tenho martelado anualmente em artigos
publicados.
Quando o problema atinge o seu auge, em Setembro ou Outubro, com a
criação no Centro Oeste ou norte do país de uma atmosfera irrespirável e
impraticável para a navegação aérea, faz-se um alarido terrível em toda a
imprensa nacional.
Com o advento da estação chuvosa entretanto, tudo cai no esquecimento
à espera da nova estação seca para a derrubada e a queimada de mais
alguns milhões e milhões de hectares de matas naturais.
É uma monótona repetição de fatos anos após anos. E os governos de
braços cruzados enquanto o deserto avança pelo Brasil adentro....
Quando muito anuncia-se a criação de mais uma inócua Repartição com
meia dúzia de técnicos e burocratas para tratar do assunto, armada de um
caminhão e dois jeeps...
A impressão que se tem é a de que os responsáveis pelo futuro da Pátria
não se sensibilizaram ainda com o problema.
Um problema que exige posições definidas, ações urgentes e enérgicas,
leis penais das mais severas e a mobilização de um verdadeiro exército de
fiscais equipados com aviões e helicópteros para se chegar
instantaneamente aos donos das matas derrubadas e incendiadas,
responsabilizando-os e prendendo-os por esse crime de lesa humanidade.
Assim é que se faz nos países civilizados.
Entretanto as soluções não passam de “turísticos simpósios” e relatórios
sobre o assunto.
A incapacidade que temos demostrado em resolver o problema é que está
inquietando outros povos. Se o próprio Brasil não se preocupa com ele, o
mundo está sumamente preocupado, pois o assunto diz respeito a
sobrevivência da humanidade. Esse incrível paradoxo é que tem criado
oportunidades para o aparecimento de ideias absurdas como essa da
internacionalização da Amazônia.
Devemos entretanto estar atentos com o que deva estar por trás dessa
“generosa” oferta.
Que a humanidade toda está preocupada com a devastação da Amazônia
e com a inatividade brasileira, ninguém duvida. Mas que existem ocultas
sobre essa “benemérita” proposta de preservação ecológica daquela
imensa região, outras intenções, é claro que existe.
Os estrangeiros sabem, bem mais que nós brasileiros, onde se encontram
as reservas minerais do Brasil.
Recordo-me de que quando foi instalada no estado a Cia Mato-grossense
de mineração, a METAMAT, organizada sob a forma de economia mixta,
deveria ela pertencer ao Governo do Estado, como acionista majoritário, e
a um poderoso grupo Japonês. Todavia com o inesperado falecimento de
um dos seus maiores financiadores, retiraram-se da sociedade os
orientais, tornando-se a companhia apenas uma entidade do governo
estadual.
Nela servi à época em que ainda se encontravam os japoneses, como
Diretor Administrativo. Como diretor técnico funcionava um geólogo
japonês Sr Anzaki dotado de vasta experiência e amplos conhecimentos da
matéria, tendo já trabalhado na China, na Rússia, no Japão, na Austrália e
nos Estados Unidos.
Certo dia conversávamos na sede da Companhia com um mapa do Brasil
estendido sobre a mesa quando o geólogo Anzaki descrevendo com o
dedo indicador uma grande elipse que abrangia o norte de Mato Grosso e
de Goiás (hoje Tocantins), a metade sul do Maranhão, do Pará, do
Amazonas e de Rondônia, disse: “Aqui está o cofre das riquezas do Brasil”.
Indagado por mim por que fazia essa afirmativa com tanta convicção,
respondeu secamente como é de hábito na sua raça: “Projeto Radam”.
Lembrei-me então, de que realmente anos atrás, fora feito um
levantamento, por aviões estrangeiros, de minuciosa pesquisa no norte do
país sobre aquele título.
À época da nossa conversa, ninguém havia ainda ouvido falar nas reservas
de ferro de Carajás, no ouro de Serra Pelada, nos garimpos de Alta
Floresta nem na cassiterita do norte de Mato Grosso.
Não estaria nisso aí o interesse “oculto” da internacionalização da
Amazônia?
Texto de Lenine Póvoas reproduzido por Eduardo Póvoas