*Juacy da Silva
A temível mudança climática, representada pela atual crise climática, com elevação da temperatura média do planeta, tem como fato gerador a emissão constante e cada vez em maior quantidade de gases de efeito estufa que se acumulam na atmosfera.
Neste sentido, é fundamental destacar que, em torno de 75% das emissões desses gases de efeito estufa são produzidos pela produção e uso de combustíveis fósseis ( petróleo e derivados; carvão e gás natural) e, de acordo com relatório da ONU, em 2019, os países do G20 são responsáveis por mais de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Sempre é bom lembrar que o Brasil faz parte do G20 e também é um dos países que contrribuem significativamente para a crise climática que estamos vivenciando e não mera vítima das ações de outros países que degradam o planeta.
Diante disso, só existem duas saídas, que devem ser buscadas ao mesmo tempo. A primeira é a reduação significativa dessas emissões de gases de efeito estufa (GEE), através de mudanças radicais nos sistemas de produção e de consumo (de hábitos de consumo e estilos de vida individuais e coletivos), isto significa mudar, radicamente as matrizes energética e elétrica mundial e os fundamentos da economia, e, segunda, o sequestro de parte desses gases que ao longo de quase dois séculos, desde o início do período da industrialização, foi sendo acumulado na atmosfera.
O sequestro dos GEE é feito pelos oceanos e grandes corpos d’água, pelas florestas (que já foram ou continuam sendo impiedosamente dstruidas) e pelas geleiras. Os oceanos estão se transformando em uma grande lixeira planetária, emitindo mais GEE do que sequestram, as geleiras estão derretendo em decorrência do aquecimento global, e as florestas também ja foram ou continuam sendo destruidas, via desmatamento e queimadas, em todos os países.
“Estudo realizado pelo Instituto Totum e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, estima que cada árvore da Mata Atlântica absorve 163,14 kg de gás carbônico (CO2) equivalente ao longo de seus primeiros 20 anos.o carbono estocado por árvore resulta em aproximadamente 130 kg CO2-eq para as árvores na Mata Atlântica e 222 kg CO2-eq para as árvores da Floresta Amazônica”.
A quase totalidade dos cientistas concordam que uma das formas mais eficazes para absorver parte do CO2 já acumulado na atmosfera seria plantando mais árvores, reflorestando, pois estas utilizam CO2 para crescer e liberam oxigênio, tal ação traz benefícios para todo o meio ambiente.
Árvores e outras plantas, inclusive aquéticas, produzem oxigênio, o gás essencial para a sobrevivência das pessoas e de outros animais. Quando as árvores são cortadas, como acontece, com frequência nas áreas urbanas ou no meio rural para serem transformadas em pastagens, produção de alimentos, ou simplesmente se transformarem em áreas degradadas, menos oxigênio é liberado na atmosfera. Quando uma área é desmatada, muitos animais e plantas simplesmente morrem, ao passo que outros perdem seu habitat e precisam migrar para outros ecossistemas, como acontece com inúmeras espécies de aves que fogem das queimadas do pantanal em direção `as áreas urbanas da região.
A neutralização de carbono por plantio de árvores, urbanas ou reflorestamento rural, acontece através sequestro de carbono da atmosfera. O carbono é retirado do meio ambiente e fixado no solo, na biomassa da planta. As florestas sequestram o elemento apenas na fase do crescimento das árvores, pois ao atingirem o seu clímax, o balanço da compensação de CO2 é 0.
De acordo com matéria publicada pela WRI Brasil, em 2021, “um novo estudo publicado na revista científica Nature Climate Change e disposal no Global Forest Watch, concluiu que as florestas do mundo sequestraram cerca de duas vezes mais dióxido de carbono do que emitiram entre 2001 e 2019. Em outras palavras, as florestas fornecem um “sumidouro de carbono” com uma absorção líquida de 7,6 bilhões de toneladas de CO2 por ano, 1,5 vez mais carbono do que os Estados Unidos, segundo maior emissor hisórico do mundo, emitem anualmente”.
Diante de tantas evidências científicas, não tem sentido que governantes (prefeitos e Vereadores) e gestores municipais, da mesma forma que governantes estaduais e federais, ignorem a importância das florestas naturais ou plantadas e, também, da arborização urbana, tanto para mitigar os efeitos da crise climática, quantto uma das formas mais eficientes de sequestrar gases de efeito estuta acumulados e se que continuam sendo acumulados na atmosfera, produzindo aquecimento global, quanto para melhorar a qualidade de vida nas cidades e em seu entorno.
Quando falamos em arborização urbana estamos nos referindo tanto o plantio de arvores nos espaços públicos urbanos, como ruas, avenidas, praças, parques, quanto também os espaços privados ou mesmo públicos como quintais das casas e também espaços ao redor das edificações públicas, como escolas, unidades de saúde ou edificações administrativas.
Outro componente importante quando se fala em arborização urbana são as florestas urbanas e periurbanas, com áreas bem maiores do que os parques, com milhares de hectares, propiciando espaços e ecossistemas para a vida silvestre, os corredores ecológicos e proteção das nascentes, demais cursos d,água, a bioviersidade local e regional, bem como espaços para caminhadas ao ar livre, que fazem muito bem á saúde fisica, mental e emocional, enfim, melhoram a qualidade de vida das pessoas.
Como estamos em plenas atividades para a realização da COP30, em Belém, no Estado do Pará, que ocorrerá no período de 10 a 21 deste mês de Novembro de 2025, considerado o maior evento climático que é realizado todos os anos, desde 1995, é importante que possamos refletir sobre alguns aspectos de nossa realidade socioambiental local, aqui e agora, dentro da concepção “pensar globalmente e agir localmente”.
Também aqui em Mato Grosso nos dias 10 a 12 deste mês, será realizada a COP do Pantanal, por iniciativa e coordenação da UNEMAT e do IFMT, com o objetivo de analisar e refletir sobre os principais desafios socioambientais que a maior planície alagável do mundo, Patrimônio Nacional e Mundial, que está sendo destruido ano após ano, correndo o risco de morte, de desaparecer, se nada for realizado para impedir a degradação e destruição de sua rica biodiversidade.
Os grandes acordos, tratados internacionais ou nacionais precisam estar concretizados em ações locais, sem isso, todos esses esforços e compromissos não passam de meros discursos, palavras e documentos que nada produzem de concreto.
Inúmeras pesquisas e estudos produzidos tanto no Brasil quanto por diversas instituições internacionais e centros de estudos renomados ao redor do mundo, vem demonstrando que o aquecimento global, o volume de gases de efeito estufa, enfim, a crise climática e a temperatura média do Globo terrestre tem aumentado significativamente nas últimas décadas, em rítmo muito mais acelerado do que em décadas e séculos anteriores.
Todavia, este aumento não é igual em todos os biomas, ecossistemas e países, em algumas regiões, esses estudos indicam que dentro de poucos anos, no máximo em torno do ano de 2024, a temperatura média anual poderá ser em torno de 45º , 50º graus centígrados ou até mesmo mais, impossibilitando todas as formas de vida, inclusive da vida humana.
O mundo tem assistido o aumento da desertificação e períodos de secas mais prolongados década após década, da destruição da biodiversidade e a degradação das bacias hidrográficas e dos aquíferos subterrâneos, indicando os riscos que corremos em termos desobrevivência da vida na terra.
Entre essas regiões, cinco ou seis se destacam: o Norte da África e Oriente Médio; parte da Índia, parte da Austrália; parte dos EUA e do México, e taambém, o Centro Oeste brasileiro e parte do Nordeste, incluindo a regiãoconhecida como MATOPIBA.
Cabe um destaque, Cuiabá, que pelo menos em mais da metade dos dias do ano atualmente já é ou tem sido considerada a Capital mais quente do Brasil, também estará experimentando mais dias com temperaturas acima de 40º, 45º ou até mesmo 50º graus (na sombra), e com mais dias com baixíssima umidade, ou seja, o período sem chuvas, com altas temperaturas e com baixa umidade tornarão a vida, principalmente de crianças e pessoas idosas e também de animais, extremamente difícil.
É neste contexto que a questão ambiental ou melhor socioambiental se insere como uma dimensão importante e necessária quando as políticas públicas nacionais, estaduais e municipais são definidas e os planos, programas e ações de governo são estabelecidas.
Uma dessas dimensões que, tanto em Cuiabá, Várzea Grande e na grande maioria das cidades brasileiras, principalmente as de porte médio e grandes, incluindo aglomerados urbanos e regiões metropolitanas é a questão da ARBORIZAÇÃO URBANA, lamentavelmente desconsiderada em Cuiabá e em Várzea Grande.
Para refletir sobre esta importante questão, detro de poucos dias, na próxima sexta feira, 07 de Novembro de 2025, `as 16h, estarei participando de um PodCast, com o Jornalista Luisão, no programa BOA TARDE MT, ocasião em que iremos refletir sobre a importância da Arborização Urbana e por que, apesar de constar do Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiaba, desde 2007, até hoje a Prefeitura de Cuiabá não encaminhou o Plano Diretor de Arborização Urbana – PDAU, para a Câmara Municipal de nossa Capital?
Todos nós sabemos que a cada dia Cuiabá , Várzea Grande e toda a região Centro Oeste tem experimentado um aumento acentuado da temperatura média, com ondas de calor, tanto na área central, totalmente degradada e, também, nos bairros periféricos, que prejudicam a saúde e o bem estar das pessoas.
A arborização urbana, da mesma forma que reduzir os desmatamentos e as queimadas, tanto urbanas quanto rurais, aliadas ao combate `a poluição urbana e a degradação generalizada do meio ambiente, são condições necessárias para mitigar os efeitos e impactos que a crise climática e todas as formas de descaso com o meio ambiente provocam na vida e na saúde das pessoas.
Inúmeros estudos tem demonstrado que ruas, avenidas, praças, parques e florestas urbanas têm um efeito positivo na temperatura média das cidades e favorecem as condições de vida, principalmente para pedestres, crianças e pessoas idosas.
Não tem sentido que Cuiabá, juntamente com Várzea Grande, o maior aglomerado urbano de Mato Grosso, já com pouco mais deUM MILHÃO de habitantes, continue destruido o meio ambiente e, em lugar de cobertura vegetal, assista uma volúpia pela impermeabilização do solo com asfalto e cimento em todos os lugares, tando dos espaços públicos quanto privados, afetando o equilíbrio ecológico.
Torna-se, pois, urgente, que a população em geral e também todas as lideranças pressionem a Prefeitura de Cuiabá, para que conclua os estudos e plano de arborização da capital elaborado por uma consultoria contratada pela gestão anterior, elabore o Projeto de Lei Complementar , o PDAU e que o mesmo seja encaminhado `a Câmara Municipal com a maior urgência possivel, para ser analisado e aprovado, cabendo a Prefeitura a sua coordenação e execução, inclusive, abrindo espaços para parcerias com pessoas e entidades que desejam participar deste processo de arborização urbana.
Sem a aprovação do PDAU, todos os esforços voluntários de inúmeras entidades e pessoas que desejam ver Cuiabá voltar a ser, novamente, a nossa CIDADE VERDE, perde o sentido, pois é função do PDAU estabelecer as normas técnicas para que a arborização urbana seja feita corretamente.
Somente com o PDAU aprovado é que a Prefeitura poderá inclui-lo nas “peças” orcamentias como o PPA – Plano Plurianual do Município, com objetivos e metas de curto, médio e longo prazos; na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias e na LOA – Lei Orçamentária Anual.
Desde que foi aprovado o Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico, ainda na Administração de Wilson Santos em 2007, diversos prefeitos, incluindo Chico Galindo, Mauro Mendes, Emanuel Pinheiro e, atualmente, Abílio Brunini e dezenas de vereadores já foram eleitos e /ou reeleiutos, mas nada foi feito para que o PDAU se tornasse o insttrumento fundamental para normatizar e orientar a arborização urbana de nossa capital.
Oxalá, o atual prefeito e os atuais vereadores e as atuais vereadoras de Cuiabá despertem para este desafio, da mesma forma que tantos outros desafios socioambientais que existem em nossa capital e aprovem o PDAU e outras medidas para que Cuiabá volte a ser, não apenas novamente a CIDADE VERDE que queremos e merecemos, mas também uma cidade sustentável, limpa, sem lixo pelas ruais, sem esgotos escorrendo a céu aberto, sem poluição do ar, poluição sonora e sem poluição visual.
Só assim, teremos uma capital que seja sustentável de verdade e tenha uma política ambiental coerente com uma melhor qualidade de vida, onde as pessoas tenham orgulho de viver!
Considerando o preceito constitucional de que “todo o poder emana do povo”, é fundamental que a população, que paga impostos para sustentar toda a “maquina pública”, não se omita, que exerça sua cidadania, afinal, cabe ao povo dizer aos políticos e gestores públicos o que desejamos e esperamos que os mesmos realizem e não o contrário, deixando `a essas “mentes iluminadas”, as decisões que afetam a vida de cada cidadão e cidadã.
Por isso é que precisamos pressionar nossas autoridades municipais, nossos governantes que foram eleitos com os nossos votos que cabe a eles atenderem, não aos seus interesses pessoais ou de grupos, mas aos interesses, necessidades, objetivos e aspirações da população cuiabana, da mesma forma que a população varzeagrandense e também de milhares e milhares de outras cidades de nosso país, em todas as dimensões da vida urbana, principalmente na questão da arborização urbana.
Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram @profjuacy Whats app 65 9 9272 0052