*João Paulo Kayoli
Você já sentiu saudade de um lugar que te fazia bem, mesmo sem lembrar exatamente por
quê? Talvez tenha sido a sombra de uma árvore, o cheiro da terra molhada ou o som de um
riacho. Esse sentimento tem nome no mundo da arquitetura: design biofílico.
Essa abordagem busca algo essencial: reconectar o ser humano com a natureza. Em um
mundo cada vez mais cercado por concreto e telas, o design biofílico nos lembra que o
verde, a luz natural e os materiais orgânicos ainda fazem parte de quem somos.
Mas isso vai além da estética. Estudos internacionais já comprovaram sua eficácia. O
relatório Espaços Humanos: O Impacto Global do Design Biofílico no Ambiente de Trabalho
mostra que ambientes com elementos naturais aumentam em até 15% os níveis de bem-
estar e criatividade, além de reduzirem o estresse e melhorarem a produtividade. Ou seja,
não é só bonito — é necessário e comprovadamente benéfico.
No meu trabalho como arquiteto urbanista, levo essa ideia para outro nível: o design
biofílico com identidade. Não se trata apenas de colocar plantas em um canto. Trata-se de
ouvir histórias, respeitar memórias e traduzir culturas em forma de espaço. E aqui entra
algo muito pessoal: a vivência indígena.
Muitos indígenas, ao migrarem para a cidade, carregam uma dor silenciosa — a ausência da
natureza que antes os cercava. O barulho urbano não substitui o som das águas. O asfalto
não tem o cheiro da floresta. E é aí que o design pode curar.
Quando projeto um espaço, penso na origem da pessoa: sua aldeia, o clima do território, os
saberes que ela carrega. Tento transformar isso em elementos concretos — uma varanda
voltada para o sol da manhã, uma parede de barro batido, o uso de madeira local, um jardim
com plantas medicinais da cultura daquele povo.
Pode parecer simples, mas para quem vive longe da sua terra, isso representa muito. É uma
forma de trazer de volta o sentimento de pertencimento, algo que os povos indígenas
sempre valorizaram: viver em harmonia com a natureza — e não contra ela.
O design biofílico não é uma tendência passageira. Ele é uma resposta necessária a um
mundo cada vez mais desconectado do natural. Convida-nos a reaprender com quem
sempre soube viver bem com o planeta. Sim, o design biofílico é moderno. Mas também é
ancestral. E talvez esteja aí o seu maior poder.
*João Paulo Kayoli, Arquiteto e especialista em design biofílico