Estudos recentes, divulgados por instituições diversas, confirmam que o setor agropecuário tem sido a grande locomotiva das economias dos estados que tiveram maior crescimento do PIB no período 2015-2020. Demonstram também que a região Centro-Oeste destaca-se e aumenta sua participação no PIB nacional, colocando os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nos radares de grandes investidores nacionais e internacionais.
A novidade está na nova “região econômica” do Brasil, conhecida pelo acrônimo MATOPIBA, formado com as iniciais de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Partes desses estados apresentam acelerado crescimento econômico, baseado na produção agropecuária, especialmente com o plantio de soja, milho, arroz e algodão. Já se tornou a nova fronteira agrícola do país.
Trata-se de uma extensão geográfica contínua de milhões de hectares e condições edafoclimáticas muito idênticas à do cerrado do Centro-Oeste. O crescimento médio desses estados e da MATOPIBA, no período, foi 7,5 pontos percentuais acima do brasileiro. Bem acima da média de crescimento dos estados mais industrializados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo.
Nós mato-grossenses devemos ficar atentos ao surgimento desse novo “player” agrícola nacional, o MATOPIBA. Compete com a nossa produção agropecuária, que conta com melhor infraestrutura logística e está mais próximo de centros de consumo e portos exportadores como o de Itaqui, no Maranhão.
Devemos também prestar atenção ao excepcional crescimento da economia de Mato Grosso do Sul que há vários anos apresenta crescimento elevado e industrializa-se em ritmo mais acelerado que Mato Grosso. As duas maiores fábricas de celulose da América Latina estão instaladas em Três Lagoas. Sem contarmos Goiás, cujo processo de industrialização iniciou-se no final da década de 1980, com a indústria alimentícia, tornou-se um dos maiores centros da indústria farmacêutica brasileira e tem cinco fábricas de automóveis, tratores e implementos agrícolas. Os dois estados apresentam processo de industrialização mais acelerado e mais robusto que o de Mato Grosso.
Segundo o IBGE (PIB, Contas Regionais), o setor agropecuário tem participação de 20,9% na formação do PIB estadual. O setor de serviços participa com 63,3% e a indústria com 15,8%. Entretanto, quando consideramos toda a longa cadeia produtiva da agropecuária, aumenta muito sua expressão na economia estadual. Estudos da Fundação Getúlio Vargas indicam que a cadeia do agronegócio representa 56% do PIB de Mato Grosso, gerando uma excessiva agrodependência.
Como o setor é altamente subsidiado tributariamente, a geração direta de arrecadação de tributos estaduais não se dá nas mesmas proporções do crescimento e lucratividade do segmento. A política nacional de subsídios tributários para o setor tem foco na produção produtos destinados às exportações e à garantia alimentar nacional.
Já escrevi neste espaço, sobre a industrialização tardia de Mato Grosso e como isso pode estar dificultando que os efeitos positivos do crescimento econômico ajudem a melhorar os indicadores de pobreza e desigualdade social do estado. Não conheço estudos que demonstrem, de forma categórica, correlação econométrica entre benefícios fiscais para produção de bens primários agrícolas e retardamento da industrialização. A indústria também goza de programas de incentivos tributários por meio de programas como o Prodeic e a própria Lei Kandir que beneficia o setor agropecuário.
Não vejo incompatibilidade entre o estado ser campeão nacional de produção agropecuária e ter uma indústria forte e competitiva. Basta notarmos que o setor industrial que apresenta maior crescimento nos últimos anos tem sido exatamente a da agroindústria, com o avanço de plantas industriais de processamentos de carnes, alimentos e etanol de milho.
A considerar que o ciclo dourado das commodities agropecuárias será longo, surge a questão sobre quando as lideranças políticas, empresariais e demais membros da sociedade desenharemos o modelo de desenvolvimento econômico que concilie produção agropecuária competitiva mundialmente, industrialização acelerada, proteção ambiental, distribuição regional equitativa das riquezas e melhora dos nossos indicadores sociais. Um bom tema para um próximo artigo.
Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP (vivaldo@uol.com.br).