A pobreza em Mato Grosso

A Fundação Getúlio Vargas – FGV, publicou, por meio do seu braço de estudos sociais, a FGV SOCIAL, o mais detalhado e profundo estudo sobre a pobreza no Brasil, após a pandemia. A publicação, O Mapa da Pobreza, foi organizada e liderada pelo economista Marcelo Neri, a maior autoridade técnica e acadêmica desse assunto no Brasil. A pesquisa utiliza a grandiosa base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (IBGE, 2021), disponibilizada em 2022. Entre outros propósitos, a pesquisa da FGV mensura a situação da pobreza em todos estados brasileiros após os nefastos estragos causados pela pandemia em 2020.

A novidade do estudo é a segmentação do Brasil em 146 estratos demográficos, o que permitiu colocar holofotes na desigualdade e pobreza em distintas microrregiões do país. Inclusive dentro de cada uma das 27 unidades federativas. O trabalho considera a renda domiciliar mensal de R$ 497 per capita, equivalentes a U$ 5,50/dia em paridade de poder de compra do último trimestre de 2021. Essa métrica é mundialmente aceita e utilizada para mensurar a pobreza nas diversas regiões do planeta.

O estudo mostra que, em 2021, um contingente de 29,60% da população brasileira (62,9 milhões de pessoas) viviam em situação de pobreza. Resultado da queda de renda e depauperação do mercado de trabalho ocasionados pela covid. A redução dos valores do auxílio emergencial distribuído em 2020 também contribuiu para aumentar as taxas de pobreza em todos os estados. O estado com maior percentual da população pobre é o Maranhão, com 57,90% e o estado que detém o menor taxa de pobreza é Santa Catarina, com 10,16%.  O percentual de habitantes considerados em situação de pobreza em Mato Grosso é de 20,24%.

O estado está bem posicionado (23º. lugar) no ranking dos estados feito pela FGV Social. Fica atrás apenas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, estados mais ricos do Brasil. Mesmo bem posicionado, Mato Grosso tem mais de 765 mil pessoas considerados pobres, que dependem da ajuda dos programas de transferência de renda da União e do governo estadual para suprirem suas necessidades fisiológicas mais básicas.

Ao focarmos a espacialização dos estratos geográficas nas quais o estado foi segmentado na pesquisa, notamos a confirmação das desigualdades regionais e elevada taxa de pobreza no estado que é o maior do país em produção agropecuária. O trabalho separa o estado em seis estratos geográficos (Cuiabá/Entorno Metropolitano, Colar Metropolitano, Sudoeste, Leste e Norte). 

O menor índice de pobreza está no chamado Colar Metropolitano (Cuiabá e cidades próximas), que é de 14,53%. A maior taxa de pobreza está no estrato geográfico denominado Entorno Metropolitano, onde a taxa de pobreza é de 28,25%. Nas regiões Leste (19,61%) e Norte (17,03%) os níveis de pobreza são bem menores que a média estadual. Na região Sudoeste (Araguaia), a taxa de pobreza situa-se em 25,12%, acima da taxa estadual.

A impecável pesquisa impõe uma reflexão social, política e econômica: quais fatores objetivos e subjetivos determinaram dinâmicas tão díspares no progresso econômico e social das diversas regiões do estado? O que é possível fazer para enfrentar e reduzir a pobreza e as desigualdades sociais e regionais em Mato Grosso?

Um estado que se destaca por ser campeão nacional de crescimento econômico e de produção de alimentos. Como a sociedade, líderes políticos, empresariais podem fazer para integrar e sincronizar programas, projetos, ações para termos aqui o desenvolvimento inclusivo? O acelerado crescimento econômico de Mato Grosso expõe ilhas de acumulação de riquezas, opulência e prosperidade que convivem com bolsões de pobreza e desigualdade.

Não se trata de tarefa simples, solitária ou que entregará resultados imediatos. Mas empenho solidário que tenha o comprometimento de todas as forças sociais, políticas e empresarias para superar esse desafio que constrange a todos mato-grossenses. O desafio é gigante, mas precisa ser vencido. Como dizem os chineses, para se caminhar mil léguas, precisamos andar a primeira légua.

Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP  e escreve exclusivamente neste espaço à quintas-feiras. E-mail: vivaldo@uol.com                                  

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