MDB, o ônibus da democracia

Durante os chamados anos de chumbo da ditadura militar brasileira (1964 – 1985), entre outras restrições democráticas os partidos políticos foram proibidos, e durante 12 anos, entre 1966 e 1978, só havia dois partidos autorizados no país – a Arena e o MDB, que foram transformados em PDS e PMDB.

Apesar do consentimento oficial, vários militantes dos partidos censurados se abrigaram no MDB, que ganharia o apelido de “ônibus da democracia” – se fosse nos dias de hoje, a alcunha provavelmente seria de Barriga de Aluguel.

Com a anistia aos exilados, presos e partidos políticos, assinada pelo presidente José Sarney em 1985, os partidos puderam sair da clandestinidade e ser registrados novamente, e os seus militantes começaram a deixar o PMDB para assumir suas verdadeiras legendas. Grosso modo, foi o que aconteceu com PCdoB, PCB, PSB, PDT, entre inúmeros outros. Foi do MDB que saiu a dissidência que resultou, em 1988, no PSDB.

Esse fato histórico iria determinar a identidade e a correlação de forças internas do PMDB até os dias atuais – quase 40 anos depois: o MDB possui uma democracia interna que consegue resistir a embates absolutamente viris sem se desintegrar. Com lideranças regionais fortes, o partido também consegue sobreviver fora do poder, o que é raro na realidade brasileira pós-ditadura.

Fiz esse preâmbulo para responder a uma indagação da jornalista Luciana Gaviglia, durante o jornal A Notícia de Frente desta quarta (23), na TV Vila Real, no qual temos ainda a companhia do filósofo Haroldo Arruda: o MDB vai ou não apoiar uma eventual candidatura do prefeito Emanuel Pinheiro a governador ano que vem?

Minha resposta: depende da conveniência do partido e da correlação interna de forças, já que temos muitas correntes em conflito atualmente dentro da agremiação.

Emanuel Pinheiro precisa, primeiro, costurar a unidade interna. Para isso, precisa contemplar o partido na sua administração, uma vez que o partido não indicou nenhum secretário em Cuiabá.

Enquanto isso, o MDB tem um secretário de Estado (ex-deputado Silvano Amaral) e alguns adjuntos na gestão Mauro Mendes, candidato natural à reeleição em 2022 e principal adversário político de Emanuel desde 2016.

Além disso, a principal deputada estadual do partido hoje é Janaína Riva, que tem diferenças com o prefeito e, de quebra, está trabalhando uma reaproximação do seu sogro, senador Wellington Fagundes (PL), com o governador Mauro.

Não se pode ignorar que Emanuel Pinheiro também teria dificuldades de trazer o seu colega prefeito de Várzea Grande, Kalil Baracat, já que lançou seu filho, deputado Emanuelzinho, para disputar com o correligionário nas eleições do ano passado na cidade vizinha.

Como se vê, para viabilizar sua candidatura pelo MDB Emanuel Pinheiro tem um quebra-cabeças para montar e alguns nós para desatar. Porém, habilidade política e capacidade de articulação são seus pontos forte. Com jeitinho e boa conversa, como se sabe, no MDB pode acontecer de tudo, inclusive nada.

(*) KLEBER LIMA é jornalista, diretor de jornalismo de HiperNotícias, comentarista da TV Vila Real e Rádio Vila FM e consultor de marketing político. Instagram: @kleberlima2018

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