A esperteza de Bolsonaro para cativar os otários brasileiros

Com um toque de Midas às avessas, tudo o que Bolsonaro coloca as mãos acaba cheirando mal. É isso o que ele faz com a frágil democracia brasileira, acusando a Justiça Eleitoral de promover e comandar o crime de manipulação na apuração das eleições.

 

O jogo sujo de Bolsonaro é lançar ataques às instituições e ameaçar o país. Neste final de semana, a máquina bolsonarista foi usada para mais manifestações de rua em defesa das ideias do “mito” contra a democracia e em favor dos seus interesses pessoais. 

 

A esperteza de Bolsonaro começa pelos termos que usa no jogo retórico. Conforme diz Anselm Strauss, a  retórica é por excelência a  região  da  disputa,  do  insulto,  da  injúria, da altercação, do bate-boca, da  malevolência  e  da  mentira. Da  malevolência  disfarçada  e  da  mentira  subsidiada. 

 

O termo  “voto impresso”, o voto de papel, expressa algo antiquado. O termo “voto auditável” é técnico demais para cativar corações e mentes dos brasileiros. Então Bolsonaro adaptou a mentira para o termo “eleições democráticas”, livres. Sem dúvida um termo mais simples e eficiente para a sua mentira.

 

Em uma recente conversa com seus seguidores no cercadinho, Bolsonaro rindo, com o deboche que marca o seu caráter, pediu essa mudança do termo: “falem eleições democráticas”.  Sim, essa é a ironia da coisa: Bolsonaro usa a expressão “eleições democráticas” no seu jogo sujo para destruir, na prática, as eleições democráticas brasileiras.

 

Qual pessoa não deseja eleição limpa, eleição democrática? Bolsonaro sabe que esse discurso tem forte apelo popular e mostra a força comunicativa do “falar igual a gente”, do tornar comum, parecer o outro, e entrar na intimidade dos  sujeitos,  também,  pelas  vias  de  suas  fragilidades  e  dificuldades  de  leitura da realidade. 

Esses ataques à democracia tem diversas utilidades, todas de interesse exclusivo de Bolsonaro. O povo que se exploda, é a regra do egoísta militante, na esperteza de levar vantagem em tudo. 

 

Ao ameaçar o país, de que sem o voto de papel não haverá eleição, Bolsonaro faz seu jogo de interesse pessoal:

 

- Mobiliza seus seguidores fiéis para ter uma narrativa que ocupe as suas cabeças submissas;

 

- Prepara a explicação esfarrapada para uma eventual derrota eleitoral;

 

- Prepara o espírito do “seu Exército” para uma eventual tentativa de golpe contra o resultado das urnas;

 

- Desvia a atenção do país da investigação sobre as ações e omissões do seu governo no combate à pandemia.

 

Bolsonaro aposta nessa conversa mole, mas perigosamente autoritária, para enganar os otários brasileiros. Diz o dito popular que muita esperteza engole o dono, mas sem reação das autoridades escrachadas e ameaçadas do Congresso e do Poder Judiciário, a esperteza do jogo sujo de Bolsonaro poderá mesmo engolir a democracia brasileira.

 

Por enquanto, o país está pagando para ver sem a devida reação.