No mundo financeiro e corporativo, a crise trazida pela pandemia está produzindo vários efeitos colaterais e acelerando tendências que, embora já diagnosticadas e estudadas, estavam sendo testadas ou implantadas lentamente pelas empresas.
Um dos efeitos inesperados da crise do coronavírus foi um expressivo aumento da procura das companhias por cursos de educação financeira para seus colaboradores. A demanda das organizações também coincidiu com o desejo de boa parte dos empregados. Nestes amargos tempos de isolamento social, renda mais escassa e teletrabalho, as companhias apostaram em melhorar a educação financeira dos seus quadros profissionais para valorizá-los, mantê-los focados e dedicados ao trabalho, para aumentar sua produtividade e, por conseguinte, a lucratividade das empresas. Algumas companhias, que precisaram demitir ou recorrer ao afastamento previsto na Medida Provisória 936, que autoriza a suspensão de contratos e redução de jornada e salários, a oferta de cursos de educação financeira fez parte do pacote para ensinar os colaboradores a lidar com a redução do orçamento da família. As corporações preocuparam em dar orientações aos seus funcionários que perderam rendimentos variáveis, (comissões ou ganhos por performance), aqueles que precisaram reconfigurar a vida para trabalhar em home office e os que tiveram salários cortados e precisaram reorganizar suas finanças pessoais. Os colaboradores, por sua vez, perceberam que, neste momento que a cabeça é bombardeada com queda de renda e mudança de hábitos financeiros, melhorar o controle do orçamento familiar é importante para enfrentar a difícil e inédita situação de perda de receita e incertezas quanto à garantia do emprego.
Há uma tendência nas empresas de incluir a educação financeira no esforço de ampliar o bem estar da sua força de trabalho, que antes limitava-se, basicamente, à oferta de previdência complementar e plano de saúde. A pandemia ajudou a acelerar a necessidade de cuidar também da saúde financeira dos seus empregados e da sua família.
No Brasil, a preocupação com a educação financeira dos colaboradores não faz parte da cultura das nossas empresas. É mais comum a oferta de treinamentos nas áreas de comunicação, vendas e liderança. As empresas que mais cuidam da educação financeira dos seus funcionários são as multinacionais que operam no Brasil. Mesmo entre as grandes corporações multinacionais, as que mais oferecem programas de educação financeira a seus colaboradores são as da área de tecnologia. Com a crise crescendo em intensidade, aumentou a procura por firmas especializadas em educação financeira e plataformas digitais que oferecem esse tipo de capacitação. A procura pelo treinamento surge em formatos variados. Vão desde simples palestras em auditórios, cursos de quatro horas, consultorias individualizadas por segmentos de faixas salariais ou idade a cursos com meses de duração. Aumentou também a demanda por parte de pessoas que buscam aperfeiçoamento, normalmente pós-graduação, como forma de empodeiramento, levar conhecimentos novos à sua empresa e valorização profissional para se garantir no emprego.
Pesquisas efetuadas antes da pandemia com 7 mil profissionais e 600 líderes empresariais mundiais confirmaram que 79% dos empregados confiam em aconselhamento de suas empresas para planejamento financeiro, poupança, previdência e investimentos. A mesma pesquisa demonstrou que empresas que implantaram programas de educação financeira tiveram 86% de impacto positivo nos resultados da empresa e 45% disseram que melhorou a satisfação no trabalho por parte dos empregados. O estudo mostrou ainda que 31% afirmaram ter aumentado o comprometimento com a organização e 27% reduziram suas preocupações financeiras durante o expediente de trabalho. Enfim, o estudo demonstra que na medida que os empregados se sentem apoiados pela organização e pelos seus líderes corporativos, aumentam sua produtividade, que reflete nos resultados das empresas sob a forma de aumento de faturamento e lucratividade. Ao final, é um jogo de ganha-ganha tanto da ótica corporativa como dos colaboradores. É a pandemia acelerando tendências e criando oportunidades de crescimento.
Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)