| DOENÇA DE CHAGAS-80% dos pacientes que recebem marcapasso no Hospital de Base de Brasília (DF) têm a doença; problema persiste no país e ameaça populações em vulnerabilidade social.mp3 |
Foto da manchete: Brasil 61
Por Brasil 61
Você sabia que a doença de Chagas foi a doença causada por parasita que mais matou nos últimos anos na América Latina? Pois é. Só no Brasil, autoridades de saúde estimam que um milhão de pessoas tenham a doença. Transmitida pelo barbeiro, na fase aguda, pode causar febre, cansaço e dores no corpo. Mas depois de alguns anos, se transforma numa doença crônica e pode afetar o esôfago, o intestino e, principalmente, o coração.
No Brasil, entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, foram confirmados 5,6 mil casos de doença de Chagas crônica, em 710 municípios, segundo o Ministério da Saúde. A doença representa ainda um perigo para moradores de áreas endêmicas, concentradas nas regiões Norte e Nordeste brasileiras. O estado com maior incidência da doença é o Pará — responsável por 80% das ocorrências.
A doença de Chagas é uma doença silenciosa, que pode impactar órgãos do corpo e até mesmo levar à morte, como explica o coordenador estadual do Programa de Controle da doença de Chagas no Pará, Eder Monteiro
“Pode levar a complicações cardíacas graves como insuficiência cardíaca, congestiva, problemas gastrointestinais, podendo resultar em óbito, em casos mais graves. No Pará, estima-se que uma parcela significativa da população esteja em risco de infecção. Especialmente em áreas rurais ou em condições socioeconômicas desfavoráveis”.
O coração do aposentado e morador de Samambaia, no Distrito Federal, Adelino da Costa Lima, de 51 anos, foi o órgão mais afetado pela Doença de Chagas. Há 30 anos, ele foi infectado pela doença, em Bonfinópolis de Minas, no noroeste mineiro. Em 2011, precisou implantar um marcapasso. Mas em 2019, o órgão foi ficando mais fraco e só um transplante seria capaz de salvar a vida dele. Adelino recebeu o novo coração, mas conta que conviver com a Chagas exige cuidados.
“A partir do momento que a pessoa descobre e acusa a doença, todo ano é preciso fazer exames para descobrir se a doença está se desenvolvendo ou não”.
A estimativa é que de 30 a 50% dos pacientes desenvolverão a forma de cardiopatia crônica. O cirurgião cardiovascular do Hospital de Base de Brasília, José Joaquim Vieira Junior, conta que, por ano, são feitos em média 600 implantes do dispositivo na unidade. Segundo o médico, 80% desses pacientes precisam da intervenção por conta da doença de Chagas.
“O parasita atinge a musculatura cardíaca e faz uma espécie de inflamação no músculo cardíaco que vai levando a degeneração das fibras, causando geralmente a um aumento da área do coração. Como se você esticasse um elástico por muito tempo e ele ficasse frouxo. Conhecido como o ‘mega coração’”.
A eliminação até 2030 da doença de Chagas e outras doenças e infecções por meio do combate a determinantes sociais é a principal meta do programa Brasil Saudável, do Governo Federal, que coordena ações de 14 ministérios. Uma das estratégias é apoiar os municípios no diagnóstico e tratamento da doença. O coordenador-executivo do programa, médico sanitarista e epidemiologista Draurio Barreira, explica mais:
“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero. E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.
Se você mora numa região onde existe o barbeiro e outras pessoas já pegaram a doença de Chagas, fique atento. Em caso de dor de cabeça, febre, cansaço, edema no rosto e falta de ar, procure imediatamente um serviço de saúde do SUS para diagnóstico e tratamento.
Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas. Para evitar a transmissão oral, quando há resquícios do barbeiro em alimentos, a principal forma de prevenção é higienizar bem o que for consumir.
Para mais informações, acesse: www.gov.br/saude.