A desgraça do político “engraçado”

É uma das pragas das redes sociais: o político que se esforça para parecer “gente como a gente”. A cada sexta-feira muitos deles publicam vídeos ridículos, representando o papel de “engraçado”. O sextou é uma farsa política.

  • Pedro Pinto de Oliveira
SEXTOU

Segundo a caçadora de memes, como se apresenta Mariana Lapeloso, Sextou é uma gíria utilizada na internet para falar sobre a chegada da sexta-feira. Ela se popularizou como uma forma de comemoração com a chegada do final de semana.

A gíria, na realidade, se originou de uma música chamada Sextou, do grupo Forró da Pegação. Porém, a popularização veio de fato através da versão de Israel Novaes e Wesley Safadão.

Feita a explicação cultural da origem do meme Sextou, passemos à política e aos políticos que fazem uso semanal deste tipo de meme em suas redes sociais. É uma parte da estratégia comunicativa dos políticos parecerem “gente como a gente”. A publicação de memes Sextou busca conferir um ar de simpatia, de proximidade e bom humor. E como as redes sociais têm a força do mimetismo e da repetição, se um faz, todos fazem. O resultado é uma enxurrada de publicações iguais: um monte de político querendo parecer gente comum usando a rede para fazer graça.

Alguém poderia perguntar: que mal tem os políticos serem “engraçados”? Que mal tem tentarem parecer “gente comum”? Simples assim: político não é eleito para fazer graça, político não é pago com dinheiro público para ser engraçado. Em óbvio, não é mesmo gente comum, exerce um mandato, exerce poder. Ser engraçado é, neste caso, a desgraça da política rasa das formas vazias. As gracinhas servem como diversionismo, esvaziando o sentido da representação que lhes é conferida pelos eleitores. Há que endurecer sem perder a ternura, diria o velho revolucionário, sem que esta ternura signifique fazer palhaçada em troca de likes.

Na era do político-celular, que faz graça para agradar a audiência, é interessante examinar que algoritmo não detecta a qualidade da intenção dos likes dados pelos seguidores. Existem diferentes categorias de seguidores que dão likes nos vídeos engraçados dos políticos em acordo com seus interesses e crenças. Alguns exemplos:

– Os bajuladores: são aqueles que começam a conversa falando: “chefe, chefe, o senhor mandou bem, ficou muito engraçado, vai bombar”;

– Os alienados: dão likes aleatoriamente para tudo o que vem nas redes;

– Os analistas das redes digitais: se vídeos engraçados “dão tração”, então recomendam usá-los mesmo que a imagem da figura pública vá rebaixando, cumulativamente, até chegar ao ridículo irreversível;

– Os passivos: aqueles fiéis seguidores de suas figuras públicas. Eles concordam com tudo, riem de tudo, são do tipo hienas digitais.

Chegamos a mais uma sexta-feira. A conferir, no caso de Mato Grosso, qual será o vídeo mais ridículo nesta disputa dos políticos “engraçados”.